quarta-feira, 21 de junho de 2006

"Roubaram Uma Flor Do Nosso Jardim..." Sandra Cavalcanti - Deputada Federal Constituínte

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"Roubaram Uma Flor do Nosso jardim..."





"...na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Nã segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada."

Em 14 de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior poeta russo da era comtemporânea deu um fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída. Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram suas idéias. Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma!

Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação. Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma. A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniquidades, em mais violência.

Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena. Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema: No Caminho com Maióvski, que resume sua desoladora tragédia.

Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria. Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça.

Ao chegarem ao poder, sem nenhuma noção de sevir o povo, logo revelaram a sua verdadeira face. O país está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A Lei Maior, aquela que o país aprovou por meio de seus representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todas as violências.

Nas grandes cidades, dois governos, duas autoridades: a tradicional e a dos marginais. No campo, ausência de direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes atrevidos e até debochados,está conseguindo levar o desassossego e a insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam para sobreviver.

A cada dia que passa eles chegam mais perto de nós.

Roubaram uma flor do nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada! Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados, largaram suas legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e desafiadora alegria no alto comando do País! E qual foi a reação do povo? Nenhuma. Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que nos podia defender. E nós não dissemos nada!

Será que o povo brasileiro perdeu sua capacidade de se indignar? A sua capacidade de discernir? A sua capacidade de punir? Acho que não.

Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral. Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é não perder a alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor.

O que vai hoje na alma das pessoas, é o corajoso sentimento de que é preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente, não permitindo que eles nos cale para sempre. Se não forem enfrentados, se não forem punidos, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido arrancada de nossa garganta. e já não poderemos dizer nada.


Sandra Cavalcanti.

(Professora,
Deputada federal Constituínte,
Secretária de Serviços Sociais no Governo Lacerda,
Fundadora e Presidente do BNH, Movimento da Ordem
e Vigília Contra a Corrupção.)









4 comentários:

  1. Bem, a Sandra já teve muitas chances de fazer algo bom e...

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  2. Na verdade eu gostei da mensagem, não tenho mais preferência por políticos. Simplesmente não dá...

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  3. Sim, eu particularmente já aposentei meu título

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