http://grasso.multiply.com/video/item/10
Este filme é um experimento do Eduardo Grasso.
É muito bacana!
Eu adorei e acho que vocês irão gostar muito.
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
GRANDE EDGAR
(Lúís Fernando Veríssimo)
Já deve Ter acontecido com você.
_Não está lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos há seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
_Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O não seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
_Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
_Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa " Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
_Claro que estou lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outos está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Você ainda arremata:
_Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
_Então me diga quem sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
_Pois é.
Ou:
_Bota tempo nisso.
Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.
_Como cê tem passado?
_Bem, bem.
_Parece mentira.
_Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara?)
Ele está falando:
_Pensei que você não fosse me reconhecer...
_O que é isso?!
_Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
_E eu ia esquecer de você. Logo de você?
_As pessoas mudam. Sei lá.
_ Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Resende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
_É incrível como a gente perde o contato.
_É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
_Cê tem visto alguém da velha turma?
_Só o Pontes.
_Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
_Lembra do Croarê?
_Claro!
_Esse também eu encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
_Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e não fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte. )
_Rezende...
_Quem?
Não é ele. Pelo menos isto está esclarecido.
_Não tinha um resende na turma/
_Não me lembro.
_Devo estar confundindo.
Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.
Ele fala:
_Sabe que a Ritinha casou?
_Não.
_Casou?
_Com quem?
_Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrazador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio ao abismo. Como que não conhece o Bituca? )
_Claro que conheci. Velho Bituca...
_Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
E não avisou nada?
_Bem...
_Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?
_É que a gente perdeu o contato e...
_Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
_É...
_ E você acha que ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.
_Desculpe Edgar. É que...
_Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isto. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "já?!". )
_Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
_Certo, Edgar. E desculpe, heim?
_O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
_Isso.
_Reunir a velha turma.
_Certo.
_E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...
_Bituca.
_E o Bituca. Diz que eu mandei um beijo. Tchau, heim?
_Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.
(Texto extraído do livro "As Mentiras Que Os Homens Contam" Editora Objetiva - Rio de Janeiro - 2001, pág. 13.
GRANDE EDGAR
(Lúís Fernando Veríssimo)
Já deve Ter acontecido com você.
_Não está lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos há seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
_Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O não seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
_Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
_Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa " Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
_Claro que estou lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outos está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Você ainda arremata:
_Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
_Então me diga quem sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
_Pois é.
Ou:
_Bota tempo nisso.
Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.
_Como cê tem passado?
_Bem, bem.
_Parece mentira.
_Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara?)
Ele está falando:
_Pensei que você não fosse me reconhecer...
_O que é isso?!
_Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
_E eu ia esquecer de você. Logo de você?
_As pessoas mudam. Sei lá.
_ Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Resende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
_É incrível como a gente perde o contato.
_É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
_Cê tem visto alguém da velha turma?
_Só o Pontes.
_Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
_Lembra do Croarê?
_Claro!
_Esse também eu encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
_Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e não fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte. )
_Rezende...
_Quem?
Não é ele. Pelo menos isto está esclarecido.
_Não tinha um resende na turma/
_Não me lembro.
_Devo estar confundindo.
Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.
Ele fala:
_Sabe que a Ritinha casou?
_Não.
_Casou?
_Com quem?
_Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrazador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio ao abismo. Como que não conhece o Bituca? )
_Claro que conheci. Velho Bituca...
_Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
E não avisou nada?
_Bem...
_Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?
_É que a gente perdeu o contato e...
_Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
_É...
_ E você acha que ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.
_Desculpe Edgar. É que...
_Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isto. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "já?!". )
_Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
_Certo, Edgar. E desculpe, heim?
_O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
_Isso.
_Reunir a velha turma.
_Certo.
_E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...
_Bituca.
_E o Bituca. Diz que eu mandei um beijo. Tchau, heim?
_Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.
(Texto extraído do livro "As Mentiras Que Os Homens Contam" Editora Objetiva - Rio de Janeiro - 2001, pág. 13.
GRANDE EDGAR
(Lúís Fernando Veríssimo)
Já deve Ter acontecido com você.
_Não está lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos há seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
_Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O não seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
_Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
_Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa " Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
_Claro que estou lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outos está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Você ainda arremata:
_Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
_Então me diga quem sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
_Pois é.
Ou:
_Bota tempo nisso.
Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.
_Como cê tem passado?
_Bem, bem.
_Parece mentira.
_Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara?)
Ele está falando:
_Pensei que você não fosse me reconhecer...
_O que é isso?!
_Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
_E eu ia esquecer de você. Logo de você?
_As pessoas mudam. Sei lá.
_ Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Resende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
_É incrível como a gente perde o contato.
_É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
_Cê tem visto alguém da velha turma?
_Só o Pontes.
_Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
_Lembra do Croarê?
_Claro!
_Esse também eu encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
_Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e não fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte. )
_Rezende...
_Quem?
Não é ele. Pelo menos isto está esclarecido.
_Não tinha um resende na turma/
_Não me lembro.
_Devo estar confundindo.
Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.
Ele fala:
_Sabe que a Ritinha casou?
_Não.
_Casou?
_Com quem?
_Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrazador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio ao abismo. Como que não conhece o Bituca? )
_Claro que conheci. Velho Bituca...
_Pois casaram.
É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.
E não avisou nada?
_Bem...
_Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?
_É que a gente perdeu o contato e...
_Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
_É...
_ E você acha que ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.
_Desculpe Edgar. É que...
_Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isto. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "já?!". )
_Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
_Certo, Edgar. E desculpe, heim?
_O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
_Isso.
_Reunir a velha turma.
_Certo.
_E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...
_Bituca.
_E o Bituca. Diz que eu mandei um beijo. Tchau, heim?
_Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.
(Texto extraído do livro "As Mentiras Que Os Homens Contam" Editora Objetiva - Rio de Janeiro - 2001, pág. 13.
Rating: | ★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |
Rating: | ★★★★★ |
Category: | Other |