domingo, 9 de abril de 2006

BOLINHAS DE GUDE

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BOLINHAS DE GUDE

(crônica de Rafael)



Eu não sabia jogar bolinhas de gude, foi meu avô quem me ensinou. Na

calçada, a tarde era nossa. Toda a molecada se arrastando pelas guias, na

esquerda, na direita, era um sobe e desce na rua que parecia até procissão.

Aprendi rápido o "mata-mata", esse aí jogado nas guias.

Eu sempre quis ser o melhor para não ter que me preocupar se ia ganhar ou

perder as bolinhas; sim porque a gente sempre jogava "a ganha". Só quando

não tinha mais bolinhas de gude é que se jogava "a brinca".

No quintal da Dona Joana, a gente fazia os "boxes". {Boxe - buraco redondo com cerca de 5 cm de profundidade, usado para marcar os pontos de um jogo infantil chamado box, no qual se utilizam bolinhas de gude. O objetivo do jogo é fazer o percurso de cinco buracos no menor número de jogadas possíveis, assim como o golfe}.

O desafio não era acertar os buracos, e sim desviar do Marcelo e do Duque. A dupla de vira-latas mais conhecida de Vila Constança. Eu até que jogava bem, mas sempre tinha o "Nega". Que raiva, eu nunca conseguia ganhar dele. No "Triângulo", ou "Cela", então... O cara era "rato", conhecia todas as manhas da calçada do Zé do Pito. Acho que ele nunca teve que comprar uma bolinha, rapelava todo mundo.

Eu jogava, jogava, mas nunca conseguia ganhar dele. De certa forma isso me deu forças para continuar jogando e treinado até hoje, mesmo com 37 anos! Ainda tenho esperança de ganhar desse maledito!

A campainha tocou. Amigo de longa data....

_Chêga aí Nêga!

_ Fala Toco, tudo bom?!

_Então, vamos jogar uma?

_Uma o quê?

_ Bolinha de gude! Lembra?

_ Cara, eu tô velho prá isso.... olha a minha cara?

_Só uma. Prá relembrar os velhos tempos...

_Tá. Mas você sabe que eu vou ganhar. Sempre ganhei de você e hoje não vai ser diferente.

O que ele não sabia, é que durante anos treinei noite e dia. Jogava com meus sobrinhos e ganhava de cada um deles. Eu estava mais preparado do que nunca.

_ Tá, mas vamos logo com isso. Você vai ver...

Tudo preparado, mas faltava as bolinhas. Eu as tinha esquecido no carro. Foi o tempo de correr até lá e trazê-las. Quando voltei, minha esposa disse:

_Amor. Você está escutando a Julinha chorar? Vai rápido fazer o Mercado que eu troco ela.




(Rafael - cronistasreunidos.com.br)




9 comentários:

  1. Eu era bom com as bolinhas de gude. Aliás, gude é vidro?

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  2. Eu sempre gostei, mas os meninos não me deixavam jogar... éram pequenos machistas, achavam que eu iria atrapalhar...

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  3. Gude tornou-se o o nome do jogo.
    As bolinhas de vidro são usadas para jogar gude.

    Gude
    Datação: 1958
    n substantivo masculino
    Rubrica: ludologia. Regionalismo: Brasil.
    1 jogo infantil com bolinhas de vidro que, num percurso de ida e volta, devem entrar em três buracos dispostos em linha reta, saindo vencedora a criança que chegar primeiro ao buraco inicial
    2 Derivação: por metonímia.
    bolinha us. nesse jogo
    3 Derivação: por analogia (da acp. 1).
    qualquer outro jogo infantil com bolinhas de vidro

    Etimologia: provincianismo minhoto gode 'pedrinha redonda e lisa'

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  4. Mas que salafrários. Se fosse eu já tinha convidado para entrar na brincadeira. Ainda mais uma menina, danadinho que eu era...

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  5. Gude é jogo então....obrigado pela informãção. Passei 40 anos sem saber isso!

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  6. Poxa Carlos!
    Você deve ter jogado muito Gude né?
    Obrigada pela informação, eu também não sabia que Gude era o jogo.

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  7. "Eu não li isso Edu rsrsrrsrs.........."

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  8. Ôpa!

    Marraio. Firidô, sou rei.

    No jogo de búlica (3 buracos semelhantes aos boxes descritos, que tinham que ser percorridos ida e volta, "tecando" quem estivesse pelo caminho) a definição da ordem para jogar era feita pela proximidade a uma linha traçada no chão. Para essa "classificação", era mais interessante jogar por último (o "marraio") ou em penúltimo ("companha") pois se a bolinha batesse em alguma outra (firidô) que estivesse mais perto da linha, a colocação do atingido passaria a ser dele (sou rei).

    Não troco gudes, pipas, carrinho de rolimã, pião, queimado, pique, etc. pelos Play Stations, Game boys e quejandos de hoje em dia.
    Questão de gosto...

    Bela crônica! ;o)
    Um abraço,
    Sérgio

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  9. Antes, a gente "pintava o sete". Gastava-se mais energia corporal... hoje gasta-se mais neurônios.
    Bom dia Sérgio.
    Bjo.

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