segunda-feira, 20 de março de 2006

"COISAS DE MÚSICO..." - CRÔNICA DE EDUARDO GRASSO - MÚSICO E MEU AMIGO VIRTUAL

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Crônica de Eduardo Grasso.


Ontem à noite eu perdi completamente a noção da hora. Estava compenetrado
terminando um serviço no computador e tinha que começar a ministrar um curso as sete horas da noite. Quando eu desviei o olhar para o relógio no canto inferior direito da tela, percebi que faltavam 25 minutos. Levantei correndo, me troquei, e saí em disparada.

No caminho, senti algo estranho no chão. Procurei alguma coisa na rua. Não era o chão. Era eu. Na pressa, eu peguei dois sapatos... só que de pares diferentes. Um preto e um bege. E um tinha um pequeno desnível em relação ao outro o que me dava uma sensação estranha ao andar.

Eu não tinha tempo de voltar e trocar de sapatos então resolvi ir assim mesmo. No caminho do metrô, eu fui pensando: e agora? As pessoas vão reparar que estou com dois sapatos diferentes? Alguém vai me parar e falar algo do tipo... "Olha... tem um problema no seu pé!". Alguém vai olhar e cair na gargalhada? Alguma mulher vai dar um grito histérico e desmaiar em seguida? Os meus alunos, ao terem o contato a primeira vez com seu professor, ao virem meus sapatos, irão desistir do curso? Que reação meus pés coloridos causarão às pessoas?

Entrei no metrô e ninguém esboçou qualquer reação. Ou as pessoas são muito educadas, ou não olham para os pés das outras, ou deve estar na moda, ou não tem importância ou todo mundo calça um sapato de cada par e eu nunca tinha reparado...

Na escola ninguém reparou também. Eu até circulei mais do que o normal pelas dependências da escola para captar alguma reação, um colega de trabalho que cutucasse o outro com o cotovêlo e falasse baixinho: - "Não falei que ele parecia louco? Agora ele surtou de vez!". Nada.

Na verdade essas convenções de roupa sempre me intrigaram. Por que alguém importante deve usar gravata? O profissional, ao tirar a gravata perde o conhecimento, como Sansão perdeu a força após seu cabelo ser cortado? Faz algum sentido usar um pedaço de pano fechando a camisa para reter o calor do corpo num país onde faz 40 graus à sombra?

Meus sapatos estão lá, cada um com seu par, esperando serem usados à maneira correta. O pequeno caso extra-conjugal que tiveram ontem, talvez tenha servido para lembrá-los que nada é imutável.

Mas confesso, estou morrendo de vontade de usar os pares trocados novamente...

6 comentários:

  1. poxa...rsrsrs
    realmente nunca tinha pensado em como as coisas estao mudando...
    de uns tempos pra ca a gnt nao tem tido tempo pra pensar em certas, coisas nem ao menos reparar...
    quem sabe um dia desses eu nao saio com o sapato trocado pra ver como as pessoas reagem..rssrs
    ou uma camisa do avesso??
    talvez elas nem irao reagir...
    triste..mto triste..

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  2. Bom Tiago, você nasceu aqui, acho que sabe como é... As pessoas passam apressadas e nem percebem as outras.
    No metrô, estão preocupadas com o trabalho, ou a escola, ou com a volta para casa...
    Como é comum ver de "tudo" aqui, ninguém mais liga.

    Confesso, se eu visse(como já vi muitas coisas "diferentes"), seria discreta e agiria normal.

    Bjs.

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  3. Partindo de um fato do quotidiano, de algo que, para a maioria das pessoas, seria apenas um aborrecimento, o Grasso consegue levar o leitor a "filosofar" com ele.
    Você não acha que ele deveria reunir as crônicas num livro?

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  4. Oi Arlete!
    Eu disse à ele que deveria escrever mais ele é bom nisso.
    Outras pessoas o disseram também.
    Ele me disse que vai continuar, vamos esperar para ver.

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  5. Viu o filme Collateral? Ninguém repara nem num morto no metrô...

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  6. Eu não vi o filme, mas vou dizer prá você, a gente se acostuma com coisas "doidas".

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